Tradição e Modernidade

Lina Bo Bardi e sua escada helicoidal de madeira

O conjunto do Unhão, o qual a construção data do século XVII, trata-se de um engenho de açúcar com casa-grande, senzala e capela, tombado no ano de 1943 na cidade de Salvador (BA). A capital baiana era a principal cidade brasileira na época em que o Brasil ainda era uma colônia portuguesa. O conjunto chamou a atenção da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi desde sua primeira visita em 1958. Com participação decisiva de Lina na definição do programa e da própria implantação, as edificações foram restauradas para receberem o Museu de Arte Popular e a Universidade Popular. Mas em todo o conjunto, o elemento que chama a atenção por sua plasticidade, funcionalidade e simbolismo, é a escada helicoidal de madeira.

A escada representa a união do tradicional com o moderno, em um elemento que é fundamental e simbólico ao mesmo tempo.  “A escada se mostra contemporânea em seu desenho, mas se harmoniza com os elementos de outras épocas presentes no edifício; e simultaneamente remete ao tradicional, pelo uso da madeira e pelo sistema de encaixes copiado dos carros de boi”, explica o arquiteto Antônio Rocha, ex-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil.

A escada em si é, na falta de outras palavras, impressionante. Localizada “solta no espaço”, uma qualidade que proporciona protagonismo, ela é inscrita entre quatro pilares de seção quadrada, pré-existentes, e desenvolve-se em volta de um pilar roliço central. Em planta, está inscrita em um retângulo de 4.15 m por 4.75 m aproximadamente. “Cada viga perimetral inclinada sustenta quatro degraus trapezoidais cuja espessura mede sete centímetros através de um encaixe do tipo espiga, travado externamente com uma cunha vertical. Os degraus dividem as vigas em quatro partes iguais. As duas exceções às regras são os degraus apoiados na primeira e na última viga. Na primeira, os quatro pilares dividem a viga em partes crescentes a partir do primeiro: oitenta, noventa e cinco, cem, e cento e quinze centímetros respectivamente”, aponta Antônio.

Poucos saem indiferente da experiência proporcionada pela escada. Ainda para o arquiteto, a escada é de uma elegância incomporável. “Ela não dita o comportamento, ela simplesmente estimula uma elegância. Encena como você vai de um nível ao outro. Faz de todo mundo que desce a escada uma pessoa nobre”, finaliza.

Reportagem da REFERÊNCIA PRODUTOS DE MADEIRA, edição 61.

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