ESTUDO INÉDITO

Qual o perfil das empresas exportadoras no Brasil? O que, para onde e por quanto tempo exportam? Diante desse cenário, quais vantagens, obstáculos e oportunidades podem ser observados no horizonte também para a indústria brasileira do mobiliário?

Para responder a estas perguntas, primeiro é fundamental entender a dinâmica das atuais empresas exportadoras no país. Nesse sentido, o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), por intermédio do Governo Federal, acaba de divulgar um estudo abrangente sobre o “Perfil das Firmas Exportadoras Brasileiras – Um Panorama”.

Os resultados do levantamento, que é inédito, lançam luz sobre a realidade das empresas brasileiras que atuam no comércio exterior e fornecem informações estratégicas para estimular e ampliar a participação do Brasil no mercado global, que podem e devem refletir também sobre as indústrias de móveis e colchões no país.

O estudo revelou um cenário ainda limitado para as exportações brasileiras, com apenas 1% das empresas nacionais comercializando seus produtos para o exterior. Esse número representa aproximadamente 25 mil firmas com acesso ao mercado internacional. Porcentagem similar à de outros países em desenvolvimento, mas significativamente menor se comparada às economias desenvolvidas. O que aponta para oportunidades de expansão para a indústria brasileira, rica em recursos materiais, além de capaz de atuar em paridade técnica e criativa, mas que ainda sofre com obstáculos que limitam seu desenvolvimento no mercado interno e externo.

Cultura de exportação ainda não é difundida no país

Um dos principais desafios, como observado pelo presidente da ABIMÓVEL (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário), Irineu Munhoz, é o sistema tributário ultrapassado e complexo no Brasil, que impõe uma carga financeira elevada e burocracia excessiva em diversos processos, inclusive na inserção internacional das empresas locais. Além disso, o baixo investimento e incentivo à pesquisa e inovação também aparece como outro fator limitante. Barreiras tarifárias, entraves logísticos e de infraestrutura, além da falta de uma cultura exportadora forte e consolidada no país, também são obstáculos significativos à internacionalização das indústrias brasileiras.

Dessa forma, muitos ainda são os desafios a serem superados. Segundo o estudo do MDIC, a probabilidade média de uma empresa começar a exportar é de apenas 1% desde sua abertura até dez anos de funcionamento. Empresas maiores, com mais de 250 empregados, apresentam probabilidade de 22% de conquistar o mercado externo em sua primeira década de existência.

Em média, os negócios têm aproximadamente 65% de chance de sobreviver no mercado externo após o primeiro ano de exportação. As chances de sobreviver por dois anos são de 53%, e diminuem gradativamente, até uma chance de 29% em manter as exportações ativas por 11 anos. De maneira geral, quanto maior a empresa, maiores também as chances de sobrevivência no mercado exportador. Outro ponto é que a maior parte das empresas exporta de maneira irregular: os períodos de exportação consecutiva e ininterrupta possuem uma duração mediana de três anos, um tempo relativamente curto, mas em linha com a evidência internacional.

Esses percalços vão de encontro ao fato de que empresas que exportam tendem a pagar salários mais altos e empregam uma proporção maior de trabalhadores qualificados, ou seja, exercem impacto positivo em toda a sociedade e economia. O MDIC mostrou que o prêmio salarial pago pelas empresas exportadoras varia de 36% a 124%, dependendo do setor de atividade da empresa. A abrangência dessas exportações também conta: em 2020, o salário médio ofertado por firmas que exportaram para os Estados Unidos e para a União Europeia, por exemplo, foram respectivamente 25% e 23% maiores do que o de empresas que direcionaram sua produção apenas para o Mercosul.

Com relação à sua distribuição regional, as firmas exportadoras do Brasil localizam-se em poucas Unidades da Federação do país. Em 2020, os estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul concentravam 54% das firmas exportadoras brasileiras. Em contrapartida, as exportadoras localizadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste possuíam, nesse mesmo ano, em média 30% mais empregados do que as estabelecidas no Sul e Sudeste. O que pode se justificar, entre outros motivos, pelo fato de que o percentual de firmas que exportaram a países do Mercosul foi quase 2,5 vezes maior nas regiões Sul e Sudeste do que nas demais regiões do país.

Projetos de incremento às exportações

Apesar disso, constatou-se que a maior parte (61%) das empresas brasileiras que atualmente exportam realizam negócios apenas na América Latina. Isso ressalta a importância da integração regional, beneficiando-se das vantagens geográficas e culturais, além das tarifas mais baixas, fruto de acordos comerciais na região, tal qual o Mercosul. Afinal, as tarifas médias impostas pelos parceiros comerciais são de fato um fator determinante na escolha dos mercados de exportação. Economias que impõem tarifas mais altas têm menos chances de serem exploradas pelas empresas brasileiras.

Apesar da maior participação, no entanto, é interessante observar que o avanço das exportações para o Mercosul foi modesto nos últimos anos, apenas 2% entre 2018 e 2020. Enquanto isso, observou-se um aumento significativo no número de empresas exportando para a China (24% de crescimento), Estados Unidos (21% de crescimento) e União Europeia (16% de crescimento) no mesmo período.

Fator que demonstra, entre outras possibilidades, a eficiência de acordos comerciais e da abertura de novos mercados para além da região latino-americana, a partir, por exemplo, de programas setoriais de incentivo às exportações, como o Projeto Setorial Brazilian Furniture, iniciativa da ABIMÓVEL e da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), que tem por objetivo incrementar a participação da indústria brasileira do mobiliário no mercado internacional por meio de um conjunto de ações estratégicas, tendo como base os pilares da sustentabilidade, da competitividade e do design integrado à indústria.

Atualmente, o projeto conta com a participação de mais de 150 empresas e segue recebendo novos associados, que possuem acesso a informações de Inteligência Comercial e Competitiva, Feiras e Missões Comerciais Internacionais, Projeto Comprador, Projeto Imagem, Programa Design Brasil + Indústria, o SIMB (programa de sustentabilidade), entre outras inúmeras atividades dentro e fora do país.

Desafios para micro e pequenas empresas no comércio exterior

Sexta maior produtora de móveis no mundo, a indústria moveleira nacional é composta por mais de 17,1 mil empresas, tendo produzido 411,3 milhões de peças de móveis e colchões em 2022, gerando uma receita de R$ 83,2 bilhões e aproximadamente 270,5 mil postos de trabalho, sendo a oitava cadeia que mais emprega no Brasil, com participação ativa no PIB (Produto Interno Bruto) nacional.

Interessante pontuar, contudo, que nesse cenário 78% das empresas são de micro ou pequeno porte. Desempenhando, portanto, papéis vitais nas economias regionais e nacional, ao mesmo tempo em que enfrenta desafios ainda mais substanciais para a expansão produtiva e comercial.

Nesse sentido, o PDCIMob (Projeto de Desenvolvimento, Competitividade e Integração da Indústria do Mobiliário) surge como uma alternativa promissora para vencer esses desafios. O projeto é fruto da parceria entre a ABIMÓVEL e o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), tendo como meta o fortalecimento de micro e pequenas empresas do setor moveleiro nacional, por meio da capacitação nas mais diversas áreas: gestão, atuação digital, inovação e design de produtos, marketing, comercialização, acesso a novos mercados, entre outras etapas. Atualmente, o PDCIMob está em andamento em 12 unidades federativas do Brasil, por meio dos SEBRAEs locais, com o apoio de associações e outras entidades parceiras da ABIMÓVEL.

Perfil das Firmas Exportadoras na Indústria do Mobiliário

Por falar no acesso a novos mercados, aliás, as exportações brasileiras de móveis e colchões chegaram a 162 países e atingiram US$ 830,7 milhões durante o ano passado. Tal resultado é menor do que em 2021, quando a indústria moveleira nacional alcançou resultados históricos nas exportações, representando quedas em torno de 27,6% em volume e de 11,4% em valores exportados na variação ano a ano. Se olharmos para 2019, contudo, ano pré-pandemia e diante de uma base comparativa mais estável, o desempenho é 5,3% superior em volume de peças e 29% maior em valores exportados.

Quando falamos na origem dessas exportações, similar ao que vimos no levantamento geral realizado pelo MDIC, os três estados da região Sul continuam sendo os maiores exportadores de móveis do Brasil. Juntos, Santa Catarina (40,1%), Rio Grande do Sul (29,0%) e Paraná (14,5%), corresponderam a 83,6% das exportações brasileiras de móveis em 2022. Com cada vez mais empresas aderindo a programas como o Projeto Brazilian Furniture e o PDCIMob, porém — a depender de seus portes produtivos —, outros estados vêm também ampliando suas exportações ano após ano, como é o caso de Minas Gerais e de Pernambuco.

No quesito parceiros comerciais, os Estados Unidos se consolidam como o principal destino do mobiliário brasileiro no exterior, tendo representado 33,8% do total exportado pelo setor no ano passado. Uruguai, Chile, Reino Unido e Peru aparecem na sequência, com outros países latino-americanos e europeus completando as demais posições no top 10.

Importante ressaltar, aliás, que embora as indústrias associadas ao Brazilian Furniture, por exemplo, estejam cada dia mais incrementando suas exportações para países da região, a União Europeia é o mercado que mais impõe restrições de importação. Com o novo Acordo do Mercosul com a UE, que está atualmente em avaliação, porém, espera-se que essas barreiras tarifárias e não tarifárias diminuam, o que significaria um avanço para a indústria e os produtos brasileiros.

“Segundo estudos e avaliações internas do setor, com a aprovação do acordo haveria um crescimento imediato de, no mínimo, 20% nas exportações de móveis para o bloco europeu. O que é um volume bastante expressivo para o primeiro ano de vigência do Acordo”, compartilha Cândida Cervieri, diretora-executiva da ABIMÓVEL, que ressalta que “a entidade atua de modo a demonstrar para o governo os benefícios de prosseguir nas negociações, considerando ganhos relevantes de competitividade e integração”.

A Reforma Tributária, a nova Política Industrial e a Desoneração da Folha de Pagamento também são outros pontos essenciais para a saúde do empresariado e da indústria brasileira, colaborando para melhores condições de investimentos e ofertas, bem como para um ambiente sustentável para a expansão internacional e a manutenção de ações de longo prazo no comércio exterior.

“O setor moveleiro nacional cumpre um papel estratégico para o país, ao contribuir com o equilíbrio e o posicionamento da economia e da indústria brasileira no mercado interno e global. No último ano, contudo, o setor, a exemplo de outros segmentos industriais, enfrentou desafios já amplamente conhecidos, como a crise econômica, tensão política, conflitos internacionais, além de problemas logísticos e na cadeia de abastecimento, que implicaram em uma série de obstáculos não só na produção e no consumo doméstico como também no comércio exterior”, pontua o presidente da ABIMÓVEL, Irineu Munhoz.

Ainda assim, como reforça Cândida, a balança comercial favorável e a presença em diferentes regiões do mundo ilustram a competitividade da indústria brasileira do mobiliário e sua habilidade em atender às demandas internacionais. “Para isso é preciso criarmos um ambiente favorável aos investimentos e aos negócios, para então construirmos bases sólidas para uma cultura exportadora em nosso setor e país, sendo esta uma das missões da ABIMÓVEL e de nossos parceiros”, finaliza a diretora-executiva da ABIMÓVEL.

Fonte: Abimóvel

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